quinta-feira, 28 de junho de 2012

Linguas em Perigo



 O Google estima que metade das línguas hoje faladas no mundo, irão desaparecer até 2100. Por isso a empresa vai lançar um projeto para tentar salvar línguas quase extintas. Através do site Endangered Languages eles querem preservar textos, vídeos e gravações de audio para montar um arquivo online de cada língua. No Brasil por exemplo é citado entre outros o caso da língua xipaya, que teria apenas dois falantes vivos. O vídeo abaixo lembra que a manutenção da língua é muito importante para manter viva a história, os conhecimentos, valores culturais, conteúdo científico, botânico e médico.
Veja video:
 


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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Para traduzir o futuro


A omissão de um artigo no título da obra de Stefan Zweig vertida para o português pode ter contribuído para deformar nossa autoimagem nacional

Gabriel Perissé



Considerado o mais famoso de todos os textos já escritos sobre
o Brasil, Brasilien, ein Land der Zukunft, do austríaco Stefan Zweig (1881-1942), tornou-se uma espécie de eterna profecia: somos o país do futuro... desde 1941, quando a obra foi publicada.

Mas façamos uma observação importante. O livro, escrito em alemão, possuía um artigo indefinido no seu título - ein -, deixando claro que não se tratava do único país do futuro que existia. Stefan Zweig nos via como um país do futuro, entre outros. 

O problema é que, na primeira edição brasileira, o título surgiu sem o artigo: Brasil, País do Futuro. Aliás, o título em francês também omitia a pequena mas decisiva partícula: Le Brésil, Terre D'Avenir. E igualmente o primeiro título em espanhol: Brasil: País del Futuro.

Um x OÉ enorme a diferença entre um país do futuro e o país do futuro por excelência. Especialmente naquela hora, em plena Segunda Guerra Mundial, quando a sobrevivência da Europa estava ameaçada. E nós, como "país do futuro", nos enchíamos de orgulho... Perigoso orgulho, no contexto da ditadura getulista. 

Talvez esse equívoco tradutório tenha contribuído para deformar nossa autoimagem nacional, criando obstáculos culturais para um verdadeiro avanço em direção ao porvir.

A primeira tradução brasileira, já em 1941, ficou a cargo do psiquiatra Odilon Gallotti (também tradutor de Freud). A segunda tradução, de 2006, com o artigo indefinido em seu devido lugar - Brasil, Um País do Futuro -, foi assinada por Kristina Michahelles. 

Para o autor, o Brasil era país pacífico, ainda no começo de sua história civilizatória, país destinado a ser um dos mais importantes fatores do desenvolvimento futuro do mundo. Era "reserva do mundo para o futuro", pela riqueza do solo... e do seu subsolo. Havia lugar de sobra para inúmeros habitantes, para o cultivo da terra e para a extração de tesouros subterrâneos.

Futuro

Zweig argumentava que a extensão territorial brasileira é força psíquica nada desprezível. 

O espaço dilata a alma, infunde confiança, empurra um povo para o futuro. Mas ao mesmo tempo contemplava uma imensa parcela da população brasileira sem ocupação, ou sem ocupação definida, incapaz de produzir e consumir. 

Zweig mencionava 25 milhões de brasileiros à margem da vida econômica. Gente subaproveitada em espaço excessivamente vasto. O autor não hesitou em afirmar que o país sofria de anemia.

Ao mesmo tempo, elogiava os avanços dos meios de transporte e outras iniciativas. Elogiava o governo Vargas. O Brasil anêmico reagia. As cidades começavam a crescer mais velozmente. O país aprendia a pensar nas dimensões do futuro. E havia cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. 

O trecho do livro que escolhi para a comparação entre as duas traduções (editadas abaixo) é o primeiro parágrafo do capítulo dedicado à capital paulista.

O original e as versões
BLICK AUF SÃO PAULO    1
Stefan Zweig 
Um die Stadt Rio de Janeiro darzustellen 2, müßte man eigentlich ein Maler sein, um São Paulo zu schildern, ein Statistiker oder Nationalökonom. Man müßte Zahlen türmen 3und vergleichen, Tabellen nachzeichnen und versuchen, Wachstum in Worten sichtbar zu machen; denn nicht seine Vergangenheit und nicht seine Gegenwart machen São Paulo so faszinierend, sondern sein gleichsam unter der Zeitlupe sichtbares Wachsen und Werden, sein Tempo der Verwandlung. São Paulo gibt kein Bild, weil es seinen Rahmen ständig erweitert, weil es zu unruhig 4 ist in seiner rapiden Veränderung; man zeigte es am besten als Film und zwar als einen, der von Stunde zu Stunde rascher abrollt; keine Stadt Brasiliens und wenige der ganzen Erde lassen sich an Ungestüm der Entwicklung dieser 5 ehrgeizigsten und dynamischsten Brasiliens vergleichen. 


SÃO PAULO    1
Odilon Gallotti

Para apresentar a cidade do Rio de Janeiro 2 teria eu propriamente que ser pintor e para descrever São Paulo precisaria ser estatístico ou economista. Teria que reunir 3
números e compará-los, copiar tabelas e tentar tornar compreensível por palavras o crescimento, pois não são o passado e o presente de São Paulo que o tornam tão fascinante, mas sim o seu crescimento, desenvolvimento e velocidade de transformação, por assim dizer, vistos numa película cinematográfica feita em câmara lenta. São Paulo não fornece um quadro, porque constantemente se está ampliando e sua transformação se opera com muita rapidez. A melhor maneira de mostrá-lo seria por meio duma película, duma película que de hora para hora se fosse desenrolando mais depressa. Nenhuma outra cidade do Brasil e poucas do mundo inteiro podem comparar-se em impetuosidade de desenvolvimento 5 a essa, que é a mais ambiciosa e mais dinâmica do país.


OLHAR SOBRE SÃO PAULO      1
Kristina Michahelles

Para representar a cidade de São Paulo seria preciso ser um pintor
 2. Para descrever São Paulo, um estatístico ou um economista. Seria preciso amontoar números e compará-los, 3 copiar tabelas e tentar transcrever o crescimento em palavras, pois não é o passado ou o presente que tornam São Paulo uma cidade tão fascinante, e sim o seu crescimento e o seu porvir, a rapidez de sua transformação, vistos em câmera lenta. É difícil ter uma imagem estática de São Paulo porque a cidade está constantemente se ampliando, porque é demasiado irrequieta 4 em sua rápida transformação. A melhor maneira de mostrá-la seria através de um filme, um daqueles filmes que de hora em hora se fosse acelerando. Nenhuma cidade do Brasil e poucas no mundo inteiro podem ser comparadas em impetuosidade à evolução 5 dessa que é a cidade mais ambiciosa e mais dinâmica do país.

Gabriel Perissé é fundador e pesquisador do Núcleo Pensamento e Criatividade 
www.perisse.com.br



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